14 de julho de 2011

Manchete de webjornal

Hoje, Gabriel Seraff, perito experiente e renomado, fez a primeira análise do último assassinato na principal avenida da cidade. Após a perícia, num súbito de sensibilidade, declarou:

_ Pelos objetos encontrados na cena do crime, de certo era um trabalhador. Pelo que pude presenciar da reação dos familiares informados, era um homem de bem.
A bala entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Numa fração de segundo, levou consigo uma vida. Sonhos, projetos, sentimentos, dificuldades vencidas, alegrias conquistadas à muita força. Roubou de sopetão o abraço de um filho; o orgulho de uma mãe; o sorriso sincero de um amigo e o amor de uma esposa, agora desorientada.
Que dizer então do criminoso? Um ser corrompido por um mundo que berra SOCORRO! ao mesmo passo que se afunda em sua própria lama de ganância. Caso ele for pego, deve cumprir uns cinco anos de pena e sair livremente pelas ruas. Revolta do tal que foi capaz de tanta crueldade? Talvez. Pena? Quem sabe...

E aquela poça de sangue derramado a troco de quase nada é mais uma prova de que para muitos, a vida é banal. Mais um caso de desamor incondicional.
Civis, militares e jornalistas à volta de Gabriel, comoveram-se. Três horas depois, a avenida foi liberada para trânsito e todos voltaram para suas rotinas de notícias e cenas de tragédia, maldade e covardia.


Qualquer semelhança com a realidade é coincidência.

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